Rompendo Limites
Uma das mais limitantes atitudes do ser humano é a ambição de possuir. E pior do que possuir coisas é a pretensão de possuir seres humanos (seus espelhos). O homem se julga dono de sua família, dos sentimentos das pessoas, das idéias, das atitudes. Por exemplo, o marido (dentro desse controle mental) possui a mulher e vice-versa.Ambos possuem os filhos e por conseqüência, os filhos exercem a posse sobre os pais.
Forma-se uma rede onde o jogo da disputa do domínio e do poder traz a limitação do próprio ser, que só se movimenta dentro dos parâmetros permitidos direta ou indiretamente.
Qualquer tentativa de romper essa teia traz o risco do vazio, do abandono, da discriminação e do medo - pois o homem social é manipulado pela dependência de valores externos: ele ainda não aprendeu a conscientização, a base da liberdade do homem espiritual - e, portanto, ilimitado.
Isto faz com que a Vida, dom divino e precioso, concedida para ser usada com o intuito de ser feliz, torne-se uma caminhada dura e forçosa, com caminhos definidos por obrigações e responsabilidades que nem sempre são inerentes à natureza humana e sim ao ser social, ou seja, artificial, manipulado.
Dizer não às correntes aparentemente imutáveis significa se lançar numa aventura onde muitas vezes há que se caminhar sozinho e assumir perdas de afeto e segurança que podem doer, ferir, assustar e muitas vezes causar "danos" irreversíveis. Entretanto, é a única forma de saltar do trampolim da condenação e mergulhar em si próprio, na própria essência, onde tudo é original e, portanto, puro, imaculado. Onde até mesmo a dor é sentida de uma maneira diferente, nobre, sem culpa, como só quem já fez isso sabe.
Passar pela vida é fácil, e com um pouco de jogo de cintura se vai por ela, fazendo crer a si próprio que é assim mesmo - sem refletir. Mas viver a vida é uma responsabilidade que se tem que enfrentar sozinho, assim como morrer. Quem não aprendeu a viver, não saberá morrer, tampouco.Porque a vida é um mistério único para cada um e cabe a cada um desvendar o seu. Não há deus que traga a felicidade, se não se for busca-la pessoalmente, desafiando opiniões e rompendo racionalmente com o estabelecido que já não funciona; trilhando a verdade que leva para dentro de si. Segurança, posição, conforto e respeitabilidade são apenas conceitos, e variam de sociedade para sociedade.Mas a integridade individual - a coerência com o próprio eu - é essencial e única e um compromisso que o "outro" não pode assumir. Somos maiores quando nos permitimos crescer e desenvolver nossa individualidade - a única verdade divina, imutável e absoluta, independente do julgamento e da moralidade artificial. Só quem tem a coragem de abrir portas, descobre atrás delas os recursos que sempre ali estiveram guardados para enfrentar mudanças. "Pensamos, talvez, que haja um caminho seguro. Ora, esse seria o caminho dos mortos. Então nada mais acontece e em caso algum acontece o que é exato. Quem segue o caminho seguro está tão bem como quem está morto...", diz Jung.
Helenita Scherma
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quarta-feira, 9 de julho de 2014
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